sábado, 16 de fevereiro de 2013

Beleza Negra




Maria de Fatima Dannemann

Moro na cidade mais negra do mundo.
Mas não entendo porque meninas vão a farmácia
e se transformam em loiras sem tchan.
Moro na cidade mais negra do mundo.
Não importa o riso admirado dos turistas,
nem as lentes de máquinas digitais
de olhos dinamarqueses bem azuis.
A cidade, a minha cidade é negra
apesar do azul do mar e do colorido de seus edificios.
Moro numa cidade negra e sou branquela,
mas me contamino por seu brilho de beleza.
Salvador, beleza negra,
Não importa se o que a TV mostra
tem brilhos de loiros cabelos catarinenses,
ou olhos azuis extasiados, mas alienígenas,
que não compreendem o que é estar na Bahia.
Moro numa cidade negra,
e capto a beleza de sua alma reluzente.
Salvador é ímpar.
E por ser única, não se contamina.
E por não se contaminar, cativa.
Moro na cidade mais negra do mundo.
Nos terreiros, ru, rumpi, lé,
soam atabaques triunfantes.
Na Barra, Curuzu, Cabula, Caminho das Arvores,
faces diversas de uma cidade múltipla
e ao mesmo tempo ímpar e única.
Emoldurada pelo mar, de quase todos os lados,
restos de florestas.
Macacos que pulam nos galhos das amendoeiras
da Pituba. E bem ali em frente:
Santa pós-modernidade!!! Um shopping center.
E na Bahia se vai do Pelourinho as vitrines
fechadas apenas tomando o frescão.
Moro numa cidade negra.
Este é meu berço. O Porto da Barra.
No mesmo berço da cidade.
Salvador, negra como a noite mais escura,
brilha, como a estrela mais brilhante.
Suas ruas são veias onde seu povo
pulsa vida.
Moro na cidade mais negra do mundo.
E não entendo como meninas vão a farmácia
pintar os cabelos
para aparecer na TV.

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