domingo, 7 de março de 2010

Quando a poesia fala a linguagem dos anjos IV (Anjos libertários, bardos do amor sem limites)

Fatima Dannemann

Palco da Broadway, 1997. Nada pirotécnico em cena. No palco, um bando de
atores cantam "como você pode medir um ano em segundos/ em beijos/ em
xícaras de cafézinho"... Assim terminava "Rent", premiada com os principais
"Tony" (uma espécie de Oscar para peças de teatro) daquele ano, concorrendo
com "darlings" do público, especialmente de turistas como "Miss Saigon",
"Fantasma da Ópera" e o belíssimo "A Bela e a Fera". Pois é. No Tony daquele
ano deu "Rent" na cabeça. Uma ópera-rock, musical, seja lá que nome queiram
dar ao espetáculo, sem helicopteros no palco, sem efeitos especiais, sem
falar de meninas boazinhas que vêem beleza em monstros-feios ou de
compositores deformados que se apaixonam pelas sopranos. Mas ainda assim,
impregnada dos mesmos ingredientes: amores, angústias, dores, pequenas
alegrias. "Rent" passou batido de muita gente. Claro, no palco muito pouco
de deslumbre e muito da realidade de pessoas que moram perto de nós, mas que
ignoramos: drogados, homossexuais, soropositivos.
Gente que ama, sente, sofre, vibra, ri e chora, mas que o preconceito as
vezes não deixa que sejam notados como seres humanos. Gente que, para
transmutar tudo o que sente, busca na arte o apoio que seus semelhantes lhe
negam e vez ou outra surgem bardos libertários a gritar o amor e a vida com
letras maiúsculas. Como Renato Russo, Cazuza e tantos outros, que pediram
"apenas um segundo para aprender a amar" e que foram levados cedo para
outros planos de existência. Como outros anjos, um século antes, foram
vencidos pelo fantasma da vez, a tuberculose. Castro Alves, por exemplo. E
em outras épocas outros bardos ou anjos que desafiaram os limites,
transpuseram barreiras, romperam convenções apenas para dar seu grito pela
vida. A vida a qual, poetas ou não poetas, artistas ou não artistas, os
donos da verdade ou aqueles que apenas a buscam, sejam lá quem for, todos
têm direito.
E no palco em Rent, os atores cantavam a belíssima canção gravada em disco
por Steve Wonder "how do you measure/ measure a year?" (como você mede/mede
um ano) encerrando a história em que gente como nós - apenas condenadas ao
submundo pelo preconceito da sociedade tradicional - contava seus dramas,
angústias e não deixava de acreditar no futuro. Artistas... Atores, poetas,
músicos... Gente considerada "maldita" ou "desocupada" por quem acha que
trabalhar significa apenas bater um cartão de ponto, cumprir jornada de oito
horas e ter um contra-cheque no fim do mês, quando, sabemos, que não é bem
assim. Bardos de um amor sem limite. E nos séculos passados quantos romperam
convenções? E nos séculos passados quantos desafiaram reis e juízes? Quantos
escaparam da tuberculose ou mesmo da sífiles mas morreram da overdose da
ignorância dos poderosos?
E Cazuza cantava "você tem exatamente um segundo para aprender a me amar".
Quase uma profecia. Para quem nunca teve limites, a vida na terra acaba
cedo. Mas, em outros planos ela é eterna. Como são eternos os versos de
Castro Alves e tantos outros poetas que vieram antes, mas que desafiaram as
convenções, as idéias e deixaram um legado para o mundo "Rent" talvez tenha
passado batido da grande massa de turistas que visita Nova York todos os
anos por lembrar ao mundo uma realidade que incomoda e muito, de gente a que
resta apenas a arte para transmutar as angústias em algo bonito. Como outros
tantos fizeram. Castro Alves, por exemplo, em seu leito de morte, reunindo
forças para escrever o belíssimo conjunto de sonetos "Anjos da meia-noite",
lembrando todas as mulheres de sua vida. Oito sombras ao todo. A última
delas, a inevitável, aquela a quem ninguem escapa, a morte. Nem os
poderosos. E não importa como se mede um ano, se em segundos, minutos, copos
de cafezinho. Cazuza, Renato Russo, e muitos outros que partiram cedo desta
vida, preferiram medir a vida em algo muito além de todas as medidas: a
poesia.

(dedico esse texto a minha querida amiga Stela Trindade)

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